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Como cuidar do cão cego?

Você precisa saber que o fato de seu cão ter perdido a visão não quer dizer que ele não pode se cuidar sozinho. Isso significa que não é preciso superprotegê-lo, nem achar que, sem sua ajuda, ele não pode fazer nada. Se você transmitir seus medos e inseguranças ao animal, ele pode se tornar muito dependente. Lembre-se de que o cachorro se adaptará a sua nova condição e, mesmo que leve algum tempo, ele vai se acostumar a não enxergar. Poderá aguçar outros sentidos que serão ainda mais desenvolvidos.

Nascer cego é diferente de ficar cego. Um cão que já nasce cego terá algumas dificuldades, sem dúvidas, mas ele não conhece nada diferente disso. Então, ele não precisa se ajustar – ele irá, desde o início da vida, aprender a viver como um cão cego. Já um cão que se torna cego, após ter passado anos usando a visão como o sentido primário, pode ter mais dificuldades. A maior parte dos cães se adapta com relativa facilidade à cegueira, sem que haja um grande impacto emocional. Quando o animal se torna cego de forma mais lenta e gradual, como ocorre na maioria dos casos de catarata ou de atrofia de retina por exemplo, há mais tempo para a adaptação, e tudo se torna mais fácil. Por outro lado, alguns animais podem sim ficar abalados. Sem entender o que aconteceu e sem saber como reagir, ele pode ficar desorientado e deprimido.
Veja abaixo algumas orientações para facilitar a vida no seu amigo:

Cuidados com a segurança 

A primeira preocupação que um tutor de cão cego deve ter é em relação à segurança. Segurança esta, diga-se de passagem, tanto do cão quanto do tutor.
Em relação ao tutor, precisamos ter em mente a reação de luta ou fuga do cão, que pode resultar num ataque. Apesar do famoso faro apurado dos cães, eles costumam depender muito mais da sua visão do que do olfato para identificarem pessoas/animais se aproximando. Uma aproximação muito silenciosa pode, portanto, gerar uma reação agressiva. Habitue-se a avisar o cão quando você estiver se aproximando, e também de que ele será tocado. Se houver crianças na casa, não deixe de educá-las neste sentido também. Toda interação deve ser positiva: puxões (de pelos, orelhas, etc.) apenas deixarão o cão mais aflito diante de contatos físicos, e podem fazer com que ele acabe mordendo a criança.

Um outro cuidado de segurança em relação ao tutor deve ser na hora da alimentação. Evite oferecer alimentos na sua mão, sejam petiscos ou a comida normal do cão. Se o animal estiver muito afoito, ele pode acidentalmente morder a mão do tutor junto com o alimento. Já a segurança do cão deve ser principalmente no sentido de evitar que ele acidentalmente entre em locais perigosos. Dentro de casa, use portões de segurança nas entradas/saídas de escadas para evitar quedas e evite o acesso deles à piscina para evitar afogamentos.

Mapeamento da casa e uso de odores 

Os cães cegos aprendem a “mapear” mentalmente a casa com certa facilidade, mas podemos ajudá-los. Todo cão cego precisa de pontos de referência a partir dos quais ele consiga se orientar. O cantinho dele, onde fica a caminha, é um destes pontos. Os comedouros/bebedouros, e o “banheiro” do cão também podem ser. Os pontos de referência são locais onde o animal se sente seguro e protegido. Ele irá procurar por eles quando estiver assustado ou desorientado. Idealmente, evite mudar os móveis de lugar. Uma vez que o cão tenha formado um “mapa mental” da casa, ele não irá mais se perder ou se bater se as coisas continuarem sempre da mesma maneira. Facilite a orientação do cão usando tapetes do tipo “passadeira”, dando preferência com diferentes texturas para cada parte da casa. A textura ajudará o cão a saber em que local está e para onde seguir. Trilhas de odores, feitas com o uso de essências, também são muito úteis para ajudar o cão a se orientar. Se cada pedaço da casa tiver um odor característico, será fácil para ele saber onde está. O interessante é que, na ausência do tutor, estes cheiros familiares ajudam a reconfortar o cão e a diminuir a ansiedade de separação. Se os tutores viajarem e precisarem deixar o cão hospedado em algum lugar, o uso dos mesmos odores nos ambientes onde o cão ficará também é indicado.

Fora de casa

O cão cego se sente mais à vontade em ambientes familiares. Repetir sempre o mesmo trajeto faz com que ele caminhe com maior segurança e aproveite melhor o passeio. Outra vantagem é que, conforme o tempo for passando, diminuem também as chances de que ele tropece, ou se bata em algum lugar. O uso de guias é imprescindível para qualquer cão, sem dúvida. Mas, para cães cegos, este item se torna ainda mais essencial. Através da guia, é possível manter o controle sobre o cão e evitar que ele se desvie do trajeto, caia em algum buraco, ou seja atropelado. O próprio cão se sente mais seguro. Uma vez cego, o cão passa a depender do olfato e da audição para perceber o mundo à sua volta. Por esta razão, ele pode demonstrar maior interesse em cheirar plantas, objetos, e até mesmo o chão, durante os passeios. Este comportamento é benéfico para cão, mas é preciso estar atento para que, nestas “cheiradas”, ele não acabe encontrando e ingerindo algo que não deva.

Comunicação e treinamento de cães cegos

Grande parte da comunicação do cão é visual. Eles interpretam os humanos com base na sua linguagem corporal, muito mais do que pela voz. Apesar disso, nós normalmente usamos comandos verbais quando treinamos os nossos cães. O lado positivo do nosso pequeno “deslize” é que, se o cão já estiver devidamente treinado quando perder a visão, não haverá prejuízos ao seu adestramento.
Por outro lado, caso um tutor deseje treinar o seu cão que já esteja cego, a tarefa pode ser um pouco mais desafiadora. Cachorro não fala, e, não importa quantas vezes você repita a mesma palavra, ele não irá compreendê-la se você não mostrar o que ela significa. Como o cão não terá como observar a sua linguagem corporal, ele pode demorar um pouco mais para aprender os comandos. Ele também pode ter dificuldade para saber se acertou ou não, se você não verbalizar a sua satisfação.
Outros comandos úteis para cachorros cegos incluem: “devagar”, “direita”, “esquerda”, “suba”, “desça”, e “pare”. O objetivo é ajudar o cão a se orientar onde estiver, e evitar acidentes. Você pode procurar um adestrador para ajudá-lo a ensinar estes comandos, caso tenha dificuldade. 

Contatos com humanos e cães

Se você tem uma “matilha” em casa, é possível que o seu cão cego esteja sofrendo alguma dificuldade para se relacionar com os companheiros caninos. Isso acontece porque, como já dissemos, ele fica um pouco “sem noção” por não perceber os alertas dos outros, e também porque ele pode estar instável emocionalmente.
A “falta de noção”, infelizmente, não temos como corrigir. Alguns cães toleram melhor companheiros assim, e outros nem tanto. Mas a instabilidade emocional pode ser trabalhada. Se o seu cão estiver parecendo depressivo por conta da perda da visão, olhe primeiro para si próprio: como VOCÊ encarou o problema? você está sentindo pena dele? você chora ou fica triste ao ver o seu companheiro cego? se a resposta foi “sim” a qualquer uma das perguntas, pode ser que o problema não esteja nele. Os cães são bem sensíveis às nossas energias, e podem ficar tristes ou depressivos se os seus tutores também estiverem assim. Desta forma, ainda que você esteja tendo dificuldade para processar a nova condição do seu cão, evite demonstrar isso a ele. Não se dirija a ele com “pena”, ou chore na presença dele. Tente agir o mais naturalmente possível, como se nada tivesse mudado. Só isso pode já ser suficiente para ajudá-lo.
Mas se você sentir que está lidando bem com o seu problema, e o seu cachorro não, o que fazer? Não pense que abraçá-lo e dizer “coitadinho de você” vai trazer qualquer benefício. Pelo contrário: vai deixá-lo ainda mais inseguro! Converse com ele sempre de forma alegre e positiva: ele pode não entender as suas palavras, mas reconhecerá o seu tom de voz. Brinque com ele, e ajude-o a superar os desafios que surgiram usando as dicas que já demos anteriormente: avisando antes de se aproximar ou tocar, criando “trilhas de odores”, ensinando comandos que o ajudem a se orientar, etc. Quando o cão perceber que consegue navegar pelo ambiente onde vive com facilidade, e que o seu tutor continua cuidando dele da mesma forma, ele se sentirá mais seguro e tranquilo.
Em relação a outras pessoas, avise. Muitas pessoas que amam cães na verdade sabem muito pouco sobre eles, e não são cuidadosas ao se aproximarem de animais desconhecidos. Ao receber visitas, ou encontrar com pessoas na rua que queiram interagir com o seu cão, ainda que ele seja dócil, alerte-as sobre a sua condição. Avise também o cão que quem quer tocá-lo é “amigo” (mais um comando legal), e peça para a pessoa sempre avisar o animal antes de mexer com ele.

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