O olho do meu pet está branco. O que pode ser?

É muito comum tutores chegarem na nossa clínica com os pets apresentando o sintoma de olho branco ou olho com manchas brancas. Mas, o que muitas vezes o tutor não sabe é que esse sinal clínico pode ocorrer devido à várias doenças, entre elas, as principais são catarata e úlcera de córnea.

Catarata

A catarata é uma doença progressiva que leva a opacificação do cristalino ou lente. A evolução da catarata sempre promoverá a perda de visão. Mas, você sabe que outras complicações, inclusive dolorosas, podem ocorrer com a progressão da catarata nos cães?

Entenda os riscos envolvidos em não realizar a cirurgia de catarata e o que podemos fazer para minimiza-los.

A lente é rica em proteínas e água. As proteínas lenticulares são separadas do sistema imunológico por cápsulas antes do nascimento. Durante o processo de formação da catarata ocorre a degradação das proteínas permitindo que pequenos produtos da proteólise se difundam a partir da lente. Essas proteínas que entram em contato com o sistema imunológico local, são reconhecidas como estranhas, gerando inflamação intraocular conhecida como uveíte. Estudos mostram que a uveíte induzida pelas proteínas da lente está presente em todos os estágios de catarata, mesmo sem a evidência clínica de inflamação.

As complicações mais comuns da uveíte induzida pela lente de forma crônica são:

  • Glaucoma (aumento anormal da pressão intraocular e neuropatia óptica),
  • Luxação da lente (deslocamentos da lente da sua posição normal),
  • Descolamento de retina (parte neurológica do globo ocular),
  • Degeneração do vítreo
  • Phthisis bulbi (atrofia do olho).

Essas complicações geram cegueira e quadros dolorosos muitas vezes irreversíveis que podem indicar até mesmo a remoção cirúrgica do olho em último caso.
Em estudo publicado na revista The Canadian Veterinary Journal em 2011, Christine C. Lim e colaboradores compararam animais com catarata em três grupos:

Cães submetidos à cirurgia de catarata; cães tratados somente clinicamente com anti-inflamatórios e cães que não foram tratados.

O estudo mostrou que apesar das complicações acontecerem no grupo tratado com cirurgia o risco é 4 vezes maior em cães tratados clinicamente e 255 vezes maior em cães não tratados. Todos os cães não tratados tiveram complicações dolorosas para a qual a remoção do olho era indicada. Outro resultado do estudo mostrou que cataratas tratadas precocemente tem maior taxa de sucesso e que independente do estágio da catarata o tratamento cirúrgico tem maior chance de sucesso do que nos olhos que receberam apenas tratamento clínico para uveíte.

A extração cirúrgica da catarata representa o único método pelo qual ela pode ser efetivamente tratada. O tratamento clínico com anti-inflamatórios tem como objetivo reduzir a uveíte induzida pela lente, mas não pode eliminá-la porque a causa da inflamação (catarata) permanece. Além disso, o tratamento clínico não inibe a progressão da catarata e as alterações secundárias.

Acredita-se, por exemplo, que pelo menos 20% dos cães com catarata irão desenvolver glaucoma. Assim a cirurgia além de restaurar a visão na maioria dos casos, maximiza as chances de manter o olho confortável.


Os resultados deste estudo mostram que a cirurgia de catarata apresenta taxa de sucesso superior especialmente realizada nos estágios iniciais. Este estudo também ressalta as graves complicações para olhos com catarata quando nenhum tratamento é instituído. Esta informação reforça que, quando a cirurgia de catarata não é possível, no mínimo a terapia anti-inflamatória e a monitorização contínua são essenciais para a manutenção da saúde ocular e bem estar de nossos cães.

Úlcera de córnea

A palavra úlcera tem origem do latim ulcus sendo definida pela perda de tecido em qualquer superfície do corpo (pele, mucosas, córnea, etc.) sem tendência para cura espontânea. Desse modo, com a ruptura do epitélio (camada superficial) podemos ter a exposição de camadas mais profundas à área rota. Popularmente as úlceras podem ser denominadas de feridas.

A córnea é o tecido transparente localizado na parte anterior do globo ocular. Além de sua função protetora nos olhos de nossos pets, funciona como uma lente sobre a íris (parte colorida do olho) direcionando a luz pela pupila na direção da retina. Nos animais esse poder de refração supera a lente intraocular ou cristalino.

Várias propriedades da córnea afetam sua resposta a processos de doença. Por não possuir vasos sanguíneos e sua construção compacta, o processo de cicatrização da córnea tende a ser lenta, crônica e em alguns casos intratáveis quanto ao retorno de suas características originais. Tais fatores muitas vezes levam a estados precários de transparência. Por essas razões, a denominação de lesões na córnea são descritas como úlceras de córnea.


Segundo Dr. Gabriel T. N. M. Ferreira, as úlceras de córnea são o principal problema atendido no consultório de oftalmologia veterinária. Úlceras de córnea superficiais não complicadas cicatrizam com o tratamento clínico e com mínima formação de cicatriz. Úlceras profundas complicadas podem prejudicar a visão e em muitos casos necessitam de intervenção cirúrgica.

Em casos muito graves sequelas podem levar a perda do olho por endoftalmite (inflamação/infecção do globo ocular envolvendo estruturas internas), glaucoma (aumento anormal da pressão intraocular e neuropatia óptica) e atrofia do olho (phthisis bulbi).

Causas

  • Traumas (brigas, coceira na região dos olhos, produtos químicos, corpos estranhos, ressecamento excessivo)
  • Infecções
  • Ceratoconjuntivite seca (doença causada pela diminuição da quantidade ou qualidade da lágrima)
  • Alterações de conformação nas pálpebras (entrópio: inversão das pálpebras, ectrópio: eversão das pálpebras, euribléfaro: abertura palpebral excessiva)
  • Anormalidade ciliares (distiquíase, triquíase e cílio ectópico)


Pets de raças braquicefálicas (focinho curto) como shih tzu, lhasa apso, buldogues, pequinês, pug, boxer e os gatos persas são as principais raças atendidas, mas qualquer raça pode apresentar o problema.

Nos animais braquicefálicos isso acontece devido à exposição excessiva da córnea e a maior ocorrência de alterações palpebrais e ciliares nestas raças.

Para um tratamento preciso da úlcera de córnea, o passo mais importante é a determinação da causa e sua remoção.

Sintomas

Os principais sintomas dessa doença são:  

  • A dor oftálmica é o principal sinal clínico observado. Um piscar constante e espástico, lacrimejamento, incômodo com a luz e coçar o olho com a pata ou esfregando em superfícies da casa são sinais de dor que devemos ficar atentos. O lacrimejamento em alguns casos pode ser substituído por secreção ocular esbranquiçada à esverdeada (purulenta).
  • Os olhos ficam vermelhos devido à inflamação secundária e ao aparecimento de vasos sanguíneos. A córnea pode perder a transparência sendo observado aspecto azulado-esbranquiçado devido ao edema e o aparecimento de vasos sanguíneos pode levar ao aspecto vermelho na córnea. Em alguns casos de úlcera observa-se facilmente a irregularidade da córnea ou mesmo uma depressão na superfície.

Diagnóstico

Úlceras de córnea nem sempre são visíveis a olho sem auxílio de aparelho de magnificação. Em um exame oftálmico completo, a integridade da córnea é avaliada com o corante tópico fluoresceína. De coloração alaranjada a fluoresceína em contato com a água torna-se verde. Quando sua coloração verde fica retida na córnea, o epitélio está ausente expondo o estroma da córnea, com alta afinidade pela água, e consequentemente, ao corante.

Avaliações oftálmicas complementares são necessárias para o diagnóstico da provável causa como alterações em pálpebras e cílios, alterações na produção e qualidade da lágrima, bem como a presença de fatores complicadores à recuperação. Esta avaliação completa e precisa determina o melhor tratamento e prognóstico da úlcera de córnea

Tratamento para Catarata

O tratamento para catarata é exclusivamente cirúrgico e principalmente realizado, por um aparelho, que fragmenta a catarata por ultrassom e aspira o material particulado, chamado facoemulsificação . 

Porém, quando contra-indicada ou não realizada a cirurgia um tratamento clínico medicamentoso que visa o controle da inflamação crônica gerada e as suas sequelas, se faz necessário. 

Quando a catarata é acompanhada e tratada em estágios iniciais, o controle da inflamação e a prevenção de complicações tem melhores resultados.

Tratamento para Úlcera de córnea

O tratamento tem como objetivos aliviar a dor, prevenir progressão das úlceras e restaurar o tecido da córnea. A conduta é determinada de acordo com a apresentação clínica da lesão, podendo ser clínica medicamentosa (úlceras superficiais e profundas não complicadas) ou associadas à cirurgia (principalmente em úlceras profundas, totais e nas perfurações). Geralmente, úlceras de córnea superficiais resolvem-se rapidamente, sem complicações.

Entretanto, úlceras profundas acometendo o estroma o processo cicatricial pode promover perda da transparência local podendo levar a um déficit visual.


O tratamento deve favorecer um ambiente propício para a cicatrização do tecido, evitando a progressão da lesão e promovendo uma resposta que seja capaz de restaurar a integridade da córnea. Por isso o uso de um só medicamento não é capaz de promover todas as necessidades que a gravidade da úlcera exige.

Os tratamentos cirúrgicos indicados em casos de úlcera de córnea complicada, com risco potencial para perfuração ou nas perfurações objetiva proteger a lesão promovendo um ambiente mais adequado à cicatrização ou até mesmo a reconstrução da superfície da córnea de maneira integral.

Independente da causa, profundidade da lesão, tipo de tratamento clínico ou cirúrgico o uso de colar ou viseiras protetoras é imprescindível, pois os nossos pets não possuem a capacidade de entender o que está acontecendo em seus olhos onde a dor, coceira e o incômodo estimula o auto traumatismo piorando a lesão ou até mesmo perfurando gravemente os olhos.

Reavaliações em intervalos curtos se fazem necessárias para avaliação da progressão do quadro clínico até a alta do paciente. Siga sempre as instruções de seu oftalmologista veterinário. Muito cuidado com as medicações feitas sem critério, pois como exemplo dos corticoides, eles podem agravar as lesões e causar de forma rápida perfurações de córnea.

Prevenção

Caso o seu pet apresente manchas brancas ou comece a ficar com os olhos brancos, procure rapidamente o acompanhamento de um oftalmologista veterinário.

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